quinta-feira, 21 de março de 2019

A DIVERSIDADE DAS ROTAS COMERCEIA.




Até hoje, pouco se sabe sobre as várias fases das rotas comerciais do passado longínquo dos antigos reinos que integram hoje o território de Angola. Entretanto, a distância socioeconómica das sociedades africanas desta região, permitiu a abertura de rotas comerciais importantes que estabeleceram a ligação entre os povos das diversas regiões, sejam as mais próximas ou as mais afastadas.
As fontes minerais como sal, ferro, os níveis de produção provenientes da agricultura e da pastorícia ou ainda de uma pequena indústria local (cerâmica, por exemplo), foram suficientes para fazer movimentar homens e mercadorias e fomentar uma complexa rede de comércio, primeiro para os mercados locais que supriam as necessidades mais urgentes das populações locais e áreas vizinhas, ou para as grandes feiras onde a amplitude das transacções comerciais exigia outros recursos, sendo que os seus concorrentes eram provenientes de paragens mais longínquas. A diversidade de unidade de troca nestas transacções explica por si a complexidade destes circuitos comerciais.
De facto, as redes comerciais tradicionais existiam para manter o fluxo de produtos entre o litoral e o interior.
Com efeito, só para citar alguns, paralelamente existia uma diversificada rede comercial luso-africana, que ligava, por exemplo, o Ndongo com os mercados de Mbata, Soyo, Loango, Maiombe e outros.
Do norte importavam-se principalmente tecidos de ráfia que serviam, em Angola, como moeda. Outros bens especialmente apreciados nos mercados locais eram, por exemplo, penas de papagaio, cauda de elefante e madeira vermelha (a famosa tacula).
Pode-se mencionar também os povos Mobiri ou Vili do sul do rio Dande que, provavelmente, já nesta altura, faziam negócios com mercadorias Holandesas. Maior procura tinham, alem dos tecidos, as armas e munições cuja venda à africanos pertencentes a coroa interditava os portugueses aos interior.
Todavia, no interior não eram geralmente os europeus que desenvolviam os processos por eles impulsionados e as feiras não eram igualmente criação europeia. Elas já existiam para responder as solicitações do consumo interno e não só e, com o acentuar desta intervenção, adaptaram-se ao novo quadro vigente. Quer isso dizer, que o comércio de longa distância já existia antes da intervenção europeia. O aspecto novo nesta interacção seria a ligação transatlântica das mercadorias africanas que passaram a chegar a outros mundos.
Entretanto, com a abolição do tráfico de escravos e a consequente necessidade de obtenção de matéria-prima para movimentar as indústrias na Europa, essas rotas foram sendo retomadas pelos novos parceiros comerciais com a intervenção dos portugueses.
Para o efeito, criaram-se caravanas lideradas por exploradores, que com o tempo rapidamente transformaram-se em caravanas de carregadores lideradas por comerciantes brancos, em primeiro lugar, mas também por alguns mestiços, oriundos das comunidades luso-africanas que tiraram proveito das novas possibilidades de posse territorial, de comércio e de ascensão social.
Os caravaneiros eram conhecidos como carregadores, a maioria deles eram escravos à mercê dos seus donos.
Ser carregador não era uma actividade exclusiva de quem tinha a sua liberdade apreendida. Era também uma profissão e entre os carregadores contavam-se homens livres que optavam por assim ganhar a vida, levando nos ombros mercadorias ou pessoas.
No final do século XIX, em Angola, então portuguesa, existiam ainda cerca de 200 mil carregadores. Só no século XX, com o início de construção sistemática de estradas e caminhos-de-ferro, é que os carregadores deixaram gradualmente de ser necessários.[1]

Como responderia?

1.      Que função desempenhavam as rotas comerciais no período pré-colonial?
a)      Cite as diferentes redes/rotas comerciais existentes na altura.
b)      Que produtos eram transacionados?
2.      Cite as diferentes redes/rotas comerciais existentes na altura.
3.      Explique como a ingerência/intervenção portuguesa alterou a natureza das rotas comerciais tradicionais.
a)      Que nome receberam os caravaneiros e porquê?








[1] As caravanas de carregadores, no século XIX, criaram uma densa rede comercial e de comunicação no interior de África. O mérito próprio dos africanos na exploração da África Central, nomeadamente de Luanda às Lundas, é realçado no livro da antropóloga e historiadora alemã Beatrix Heintze através de uma multiplicidade de perspectivas, com especial relevo para o papel dos chefes das caravanas, intérpretes e carregadores. Nessa altura, os exploradores europeus olhavam os Africanos como seres menores. Eram muito poucos os que os consideravam como «indivíduos por direito próprio». A literatura de viagens do século XIX está cheia de preconceitos e da subestimação dos autóctones.


1 comentário:

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