quinta-feira, 21 de março de 2019

A DIVERSIDADE DAS ROTAS COMERCEIA.




Até hoje, pouco se sabe sobre as várias fases das rotas comerciais do passado longínquo dos antigos reinos que integram hoje o território de Angola. Entretanto, a distância socioeconómica das sociedades africanas desta região, permitiu a abertura de rotas comerciais importantes que estabeleceram a ligação entre os povos das diversas regiões, sejam as mais próximas ou as mais afastadas.
As fontes minerais como sal, ferro, os níveis de produção provenientes da agricultura e da pastorícia ou ainda de uma pequena indústria local (cerâmica, por exemplo), foram suficientes para fazer movimentar homens e mercadorias e fomentar uma complexa rede de comércio, primeiro para os mercados locais que supriam as necessidades mais urgentes das populações locais e áreas vizinhas, ou para as grandes feiras onde a amplitude das transacções comerciais exigia outros recursos, sendo que os seus concorrentes eram provenientes de paragens mais longínquas. A diversidade de unidade de troca nestas transacções explica por si a complexidade destes circuitos comerciais.
De facto, as redes comerciais tradicionais existiam para manter o fluxo de produtos entre o litoral e o interior.
Com efeito, só para citar alguns, paralelamente existia uma diversificada rede comercial luso-africana, que ligava, por exemplo, o Ndongo com os mercados de Mbata, Soyo, Loango, Maiombe e outros.
Do norte importavam-se principalmente tecidos de ráfia que serviam, em Angola, como moeda. Outros bens especialmente apreciados nos mercados locais eram, por exemplo, penas de papagaio, cauda de elefante e madeira vermelha (a famosa tacula).
Pode-se mencionar também os povos Mobiri ou Vili do sul do rio Dande que, provavelmente, já nesta altura, faziam negócios com mercadorias Holandesas. Maior procura tinham, alem dos tecidos, as armas e munições cuja venda à africanos pertencentes a coroa interditava os portugueses aos interior.
Todavia, no interior não eram geralmente os europeus que desenvolviam os processos por eles impulsionados e as feiras não eram igualmente criação europeia. Elas já existiam para responder as solicitações do consumo interno e não só e, com o acentuar desta intervenção, adaptaram-se ao novo quadro vigente. Quer isso dizer, que o comércio de longa distância já existia antes da intervenção europeia. O aspecto novo nesta interacção seria a ligação transatlântica das mercadorias africanas que passaram a chegar a outros mundos.
Entretanto, com a abolição do tráfico de escravos e a consequente necessidade de obtenção de matéria-prima para movimentar as indústrias na Europa, essas rotas foram sendo retomadas pelos novos parceiros comerciais com a intervenção dos portugueses.
Para o efeito, criaram-se caravanas lideradas por exploradores, que com o tempo rapidamente transformaram-se em caravanas de carregadores lideradas por comerciantes brancos, em primeiro lugar, mas também por alguns mestiços, oriundos das comunidades luso-africanas que tiraram proveito das novas possibilidades de posse territorial, de comércio e de ascensão social.
Os caravaneiros eram conhecidos como carregadores, a maioria deles eram escravos à mercê dos seus donos.
Ser carregador não era uma actividade exclusiva de quem tinha a sua liberdade apreendida. Era também uma profissão e entre os carregadores contavam-se homens livres que optavam por assim ganhar a vida, levando nos ombros mercadorias ou pessoas.
No final do século XIX, em Angola, então portuguesa, existiam ainda cerca de 200 mil carregadores. Só no século XX, com o início de construção sistemática de estradas e caminhos-de-ferro, é que os carregadores deixaram gradualmente de ser necessários.[1]

Como responderia?

1.      Que função desempenhavam as rotas comerciais no período pré-colonial?
a)      Cite as diferentes redes/rotas comerciais existentes na altura.
b)      Que produtos eram transacionados?
2.      Cite as diferentes redes/rotas comerciais existentes na altura.
3.      Explique como a ingerência/intervenção portuguesa alterou a natureza das rotas comerciais tradicionais.
a)      Que nome receberam os caravaneiros e porquê?








[1] As caravanas de carregadores, no século XIX, criaram uma densa rede comercial e de comunicação no interior de África. O mérito próprio dos africanos na exploração da África Central, nomeadamente de Luanda às Lundas, é realçado no livro da antropóloga e historiadora alemã Beatrix Heintze através de uma multiplicidade de perspectivas, com especial relevo para o papel dos chefes das caravanas, intérpretes e carregadores. Nessa altura, os exploradores europeus olhavam os Africanos como seres menores. Eram muito poucos os que os consideravam como «indivíduos por direito próprio». A literatura de viagens do século XIX está cheia de preconceitos e da subestimação dos autóctones.


A REPRESSÃO AO TRÁFICO DE ESCRAVOS NEGROS


Como visto antes, a Inglaterra, economicamente mais interessada pela abolição do tráfico de escravos, abraçou de corpo e alma a campanha do abolicionismo. Mobilizando toda a Europa, as nações nórdicas, por exemplo, não hesitaram em apoiar a campanha da Inglaterra porque a abolição do tráfico de escravos não lhes prejudicava em nada.
Depois da lei de 1772 que institucionalizava a proibição do tráfico de escravos, a partir de 1807, os interesses lançam-se na grande ofensiva contra o chamado grande circuito, mobilizando tanto a opinião pública britânica como a internacional.
A partir desta mesma data o parlamento britânico proibia o transporte de escravos em navios ingleses, de igual modo que encarregava a ROYAL MARINE BRITÂNICA no sentido de impedir por todos os meios ao seu alcance a navegação pelo atlântico de barcos que transportassem cargas humanas.
Depois de uma série de leis intermediárias, a abolição completa da escravidão nas colónias ingleses ocorreu em agosto de 1834 através do Slavery Abolition Act que libertou 776 mil homens, mulheres e crianças. Por meio do Aberdeen Act[1], nesse ínterim, a Inglaterra havia declarado guerra aberta ao tráfico.
Depois da independência do Brasil, o tráfico de escravo passou a conhecer características diferentes:
- O primeiro período a considerar é o de 1830, que corresponde ao começo da acção da frota Britânica na repressão do tráfico ao sul do Equador, conhecendo assim uma cessação temporária renascendo depois com formas mais rígidas de organização. Neste mesmo ano nas colónias portuguesas se deixou de cobrar direitos sobre a exportação de escravos, o que fez diminuir profunda e drasticamente os rendimentos públicos e reduzir consideravelmente a margem de manobra das autoridades portuguesas;
- Em 1839 os cruzadores britânicos foram unilateralmente autorizado a visitar e a apressar navios portugueses empregues no tráfico. Esse bloqueio efectuado pela marinha inglesa aos principais portos das colónias portuguesas em África – sobretudo Luanda, Benguela e ilha de Moçambique – provocou uma nova alteração das zonas de embarque;
- 1850 é a data fundamental porque marca o encerramento do Brasil como principal mercado para a mão-de-obra de escravo.
O tráfico não termina de imediato, nem se reduz desde logo, houve uma actividade esporádica e sem significado; sofreu uma alteração qualitativa e foi gradualmente cedendo a troca de mercadorias o lugar dominante na vida colonial.
Com a assinatura do Tratado Grã-Bretanha e Portugal a 03 de Julho de 1842, relativa a conjugação de acções dos dois países no sentido da completa abolição do tráfico, sobretudo, em Angola, as duas marinhas militares receberam ordem de revistar e fiscalizar todos os navios suspeitos de negreiros.
Criaram-se as primeiras Comissões Luso-Britânicas Mistas que residiam nas colónias portuguesas a fim de julgarem todos os casos de apresamento.
A partir de 1845, as medidas contra o tráfico de escravos tomadas pelo governo luso tornaram-se mais eficazes na repressão do tráfico ilícito e o contrabando sofreu um golpe considerável devido:
a)      A existência de um destacamento das forças navais portuguesas que a partir de Luanda capturavam alguns barcos negreiros;
b)      Agressividade da marinha militar britânica que patrulhava o litoral de Angola e o atlântico;
c)      A implantação de uma comissão mista luso-britânica e de um tribunal de arbitragem em Luanda, a partir de 1844;
d)      A interrupção oficial do tráfico pelo facto de o governo brasileiro ter proibido, a partir de 1850, a entrada de escravos no Brasil.

Até aproximadamente 1900, o contrabando de escravos continuou em Angola, muitas vezes sob protecção das autoridades portuguesas, em direcção às Antilhas e Sul dos EUA.[2]
Em 1854, com a campanha abolicionista que aos poucos foi conquistando as gerais simpatias de todos ministros portugueses e britânicos, criou-se uma outra comissão mista: Junta Protectora Dos Escravos E Libertos.
Mas como o tráfico ilegal reorganizou-se e desenvolveu rapidamente concentrando a sua atenção nos territórios de Ambriz, Malembo e Cabinda, onde surgiu a necessidade de o governo luso indemnizar os colonos donos de escravos para que pudessem colaborar com o governo, a fazenda não tinha possibilidades financeiras para o efeito. E como forma de sair da crise que a lei sobre a abolição gerou, em 1848, decretou-se que a abolição só seria efectiva daí á 20 anos, isto é, em 1878. Depois deste último decreto de Sá da Bandeira, foi-lhe encarregue estudar e aprofundar todos os assuntos relacionados com a abolição.

Como responderia?

1.      Porque se diz que até 1834 a Inglaterra havia declarado guerra ao tráfico?
2.      A independência do Brasil foi um marco importante para o processo da abolição do tráfico de escravos.
a)      Mencione as diferentes características da repressão ao tráfico de escravos.
3.      Que medidas medidas contra o tráfico de escravos foram tomadas pelo governo luso a partir de 1845?




[1] Também conhecido como Slave Trade Suppression Act (Lei de Supressão do Comércio de Escravos) ou mais conhecido no Brasil como Bill Aberdeen.
[2] Para a Colónia de Angola este contrbando só terminou em 1961 com a sublevação da Baixa de Cassanje.

O IMPACTO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (1822-25) NA COLÓNIA DE ANGOLA



Ao contrário dos espanhóis, que lutaram por pedras preciosas, os portugueses optaram pela colonização de base agrícola. Aproveitando-se da sua experiência praticada nas ilhas do Atlântico (Açores e Cabo Verde), fomentaram a cultura da cana de açúcar no Brasil.
Desde muito cedo, Portugal teve o Brasil como a sua jóia da coroa e para lá se produziram todas as políticas para fazer desse território uma fonte e uma reserva para a sua economia. É o comércio de escravos que marca profundamente Portugal – como potência colonizadora -, o Brasil e Angola, este último que, nesse projecto, é a maior vítima.
Num contexto em que a potência colonizadora dependia em diversos domínios, mas sobretudo o económico, de uma colónia, estavam criadas as premissas para a proclamação da independência do Brasil. De facto, esta foi decretada em 1822 amputando Portugal das forças vivas da sua base económica. Assim, uma vez realizada a libertação comercial, o Brasil deixou de ter necessidade da metrópole.
Quando o Brasil ficou independente de Portugal, Lisboa virou-se para os territórios africanos como forma de compensação. Até àquela altura, a África desempenhava o papel de fornecedor de escravos que trabalhavam nas plantações brasileiras. A compensação não seria apenas política, mas também económica. As Cortes de Lisboa tinham formulado a ideia de compensação através de companhias que fizessem o comércio com as colónias como ficou patente em 1822[1]. Mais tarde tornou-se claro que a medida das Cortes visava impedir uma eventual tentativa de anexação de Angola pelo Brasil, porque fora enviada uma expedição militar para Luanda e Benguela.
A instabilidade política que Portugal atravessava dificultou qualquer tentativa de um interesse sólido de Lisboa aos territórios africanos, pois maior parte da atenção era sobre assuntos domésticos perante a falta de meios, financeiros e humanos, para pór em marcha um projecto contínuo. A falta de meios ficou directamente afectada pela independência do Brasil, uma vez que Portugal deixou de ter as receitas anteriormente ganhas. A violência tomou conta de algumas cidades de Portugal continental.
Além deste entrave, os territórios africanos, dispersos, tinham importância devido ao papel que desempenhavam para o Brasil - fornecimento de mão-de-obra escrava - pelo que o seu papel na nova conjuntura era, simplesmente, imaginável.
O aparelho de Estado Imperial foi reformulado, pela independência do Brasil para adequar as instituições ultramarinas aos princípios do regime liberal vigente.
Segundo Bandeira, era imperiosa a existência de quatro governos gerais, três dos quais em África - Cabo Verde, Moçambique e Angola, e uma administração em Goa e um governo particular em São Tomé e Príncipe. Aos governadores concediam amplas atribuições civis e militares e junto com eles funcionariam Conselhos de Governo compostos por chefes de repartições judiciais, militares, fiscais e eclesiásticas. O governador devia consultar ao Conselho de Governo em todos os assuntos de importância.
No terreno, a administração colonial tinha reduzido mão para o controlo vendo-se obrigada a ceder perante os poderes e interesses locais. Isso foi notório na incapacidade de supressão do tráfico de escravos. O Brasil independente tinha assinado, em 1826, um acordo com a Inglaterra visando a abolição gradual do tráfico de escravos até 1830, enquanto Portugal era ainda reticente sobre esta data, até 1836, quando Sá de Bandeira preferiu a abolição unilateral, entretanto ignorada nas colónias africanas.
Devido as divergências com Londres, a política externa de Portugal ficou abalada, devido a posição do primeiro em aprovar um projecto que previa aprisionamento de quaisquer navios portugueses suspeitos de tráfico de escravos e de um julgamento de seus autores em tribunais militares britânicos. A fraqueza de Portugal em fazer cumprir a abolição deveu-se a falta de organização e de força de administração colonial, que dificilmente poderia impor quaisquer medidas de gênero sem risco de sublevação e de perda das possessões.



[1] A 19 de Abril de 1822 entrara nas Cortes uma proposta por meio do Relatório da Comissão do Ultramar. Cfr. Diário das Cortes de 1822, p. 988.

quinta-feira, 7 de março de 2019

JULIUS NYERERE: O LÍDER INCANSÁVEL

O pan-africanista levou o Tanganica à independência em 1961, tendo depois sido também Presidente da Tanzânia. Apesar das falhas, a sua política "Ujamaa" é reconhecida por ter dado à Tanzânia uma identidade nacional.
Viveu: no Tanganica, que mais tarde se tornou Tanzânia, onde nasceu (em Butiama), em 1922. Estudou para ser professor na Universidade Makerere, no Uganda; e Economia e História na Universidade de Edimburgo. Morreu em Londres em 1999.
Reconhecido:
- Pelo seu nome suaíli "Mwalimu", que significa "professor". Nyerere deu aulas de Biologia e Inglês durante três anos antes de conduzir o Tanganica à independência. Foi o primeiro Presidente da Tanzânia unida.
- Pela sua paixão incessante por uma África unida. Contrariamente a Kwame Nkrumah do Gana, Nyerere optou, numa primeira fase, pela união regional da África Oriental. Já Nkrumah defendeu a união direta e completa do continente. Juntos idealizaram a Organização da União Africana.
- Pelo apoio dado aos africanos que lutaram pela liberdade. Depois de conquistar a independência para o seu país, Nyerere seguiu o seu ideal pan-africanista acolhendo e apoiando as rebeliões armadas contra os regimes de Moçambique, África do Sul, Namíbia, entre outros.
- Por ter traduzido William Shakespeare para suaíli.
A reter: durante a Guerra Fria, Nyerere não tomou partidos. Quando a República Federal Alemã pediu ao seu país que cortasse laços com a República Democrática Alemã, como previa a Doutrina de Hallstein, Nyerere recusou, correndo o risco de perder a ajuda alemã, e insistindo na soberania da Tanzânia. Nyerere disse que o seu país "não aceitaria ajuda que implicasse compromissos".
Criticado por: suprimir a opinião dissidente, abandonar outros lutadores da liberdade e ficar com toda a glória para si mesmo. Pensa-se também que Nyerere tenha estado contra a influência dos líderes islâmicos na Tanzânia. A sua política "Ujamaa" não foi bem sucedida na mudança do panorama económico da Tanzânia. Em 1985, Nyerere aposentou-se para abrir caminho para ajustes estruturais económicos no seu país.
Ujamaa: com base na sua experiência como filho de uma grande família e a sua imersão no pensamento socialista da Sociedade Fabiana britânica, Nyerere desenvolveu um sistema de socialismo africano que previa a conexão do socialismo com a vida comunitária africana. O nome "Ujamaa" deriva do termo "família" em suaíli. Em contacto com Jomo Kenyatta do Quénia, Nyerere esteve disposto, a determinada altura, a deixá-lo ser o líder da África Oriental. Ofereceu-se mesmo para atrasar a independência do Tanganica para aguardar a independência dos três países da África Oriental na esperança de unificá-los. Os outros líderes da África Oriental não permitiram que isso acontecesse, o que não impediu Nyerere de perseguir o seu objetivo. Nyerere concentrou os seus esforços na unificação dos múltiplos grupos étnicos da Tanzânia e conseguiu-o, por exemplo, através do uso do suaíli como língua nacional.
Frases famosas:
"Uhuru na kazi (Liberdade e trabalho)".
"Nenhuma nação ou povo tem o direito de tomar decisões por outra nação ou povo".
"A união não nos tornará ricos, mas pode fazer com que seja difícil para África e os seus povos serem desconsiderados e humilhados".
"A educação não é uma maneira de escapar à pobreza, é uma maneira de lutar contra ela".
"Se o desenvolvimento acontecer, as pessoas devem estar envolvidas".
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Apesar das falhas, a sua política "Ujamaa" é reconhecida por ter dado à Tanzânia uma identidade nacional.
No auge da luta da independência no continente africano, poucos nomes podem ser comparados ao de Julius Kambarage Nyerere. Em 1922 nascia em Butiama, na colónia britânica Tanganica, Kambarage, mais conhecido por Julius Nyerere. Filho de um chefe do povo Zanak, Nyerere teve um papel crucial não só na política do seu país, mas também ao nível do continente africano.
Nyerere estudou para ser professor na Universidade Makerere, no Uganda, tendo, mais tarde, e antes de se tornar político, dado aulas de Inglês e Biologia. Por respeito, chamavam-lhe "Mwalimu", que significa "professor" em suaíli.
Em 1949, foi estudar para a Grã-Bretanha, tendo sido o primeiro cidadão do Tanganica a fazê-lo. No país dos colonialistas, Nyerere foi-se aproximando cada vez mais da política no seu país de origem. Numa luta sem derramamento de sangue contra o poder colonial britânico, alcançou a independência do Tanganica em dezembro de 1961. Tornou-se primeiro-ministro e foi eleito Presidente do país um ano depois.
No entanto, estava longe de ser um chefe de Estado comum. Quando questionado sobre o que planeava para o futuro do Tanganica, Nyerere afirmou "não estar a fazer planos". "Acho que isso está a ser planeado pelas próprias pessoas do Tanganica", acrescentou.
Enquanto se manteve no poder, Nyerere foi sempre uma pessoa humilde e com os "pés bem assentes na terra", frisa Victoria Bache, curadora assistente do Museu Nyerere, em Dar-es-Salaam. Segundo esta responsável, Nyerere "amava as pessoas. Não fazia discriminação, vivia como um plebeu. Há imagens dele a agarrar uma picareta, envolvendo-se na construção da nação com os outros".
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Nyerere acreditava que o caminho para alcançar a prosperidade económica era através da união.
Política "Ujamaa"
Por fazer parte de uma grande família, Nyerere acreditava que o caminho para alcançar a prosperidade económica era através da união. Por isso, desenvolveu no país um sistema de socialismo africano denominado "Ujamaa" - um modo de vida coletivo. Para implementar esta política, Nyerere moveu as pessoas das suas comunidades para aldeias artificiais Ujamaa, nem sempre com o consentimento dos moradores.
Outro passo para unir o povo da Tanzânia sob o chapéu da política "Ujamaa" foi a utilização de uma linguagem comum: o suaíli.
Ainda que as suas ideias não fossem consensuais, até mesmo os críticos de Nyerere têm coisas favoráveis a dizer a seu respeito, explica o historiador Said Mohammed. "No meu estudo, a qualquer pessoa que pergunte vai dizer-lhe que Mwalimu é especial. Ele é incorruptível! Não se importava com o dinheiro ou com a riqueza", afirma.
Julius Nyerere deixou a Presidência do seu país, voluntariamente, em 1985, e morreu em 1999.

Fonte: DW - Made for Mindes

KWAME NKRUMAH E O IDEAL PAN-AFRICANISTA

O Muito Honorável Doutor Conselheiro Privado Kwame Nkrumah foi um líder político africano, um dos fundadores do Pan-Africanismo. Foi primeiro-ministro entre 1957 e 1960 e presidente de Gana de 1960 a 1966.
Kwame Nkrumah é conhecido pela sua visão de uma África livre e unida e por ter conseguido a independência do Gana do domínio colonial britânico, em 1957. Mas nem tudo na sua vida foi um triunfo.
Nascimento: 21 de setembro de 1909 em Nkroful, Gana. Morreu a 27 de abril de 1972, em Bucareste, Roménia.
Reconhecimento: Ficou famoso pela luta pan-africanista, tendo levado o Gana à independência, em 1957. Foi o primeiro a ocupar o cargo de primeiro-ministro e Presidente. É substituído em 1966 depois de um golpe de Estad). Foi um dos pais da Organização da Unidade Africana (atual União Africana).
Críticas: Chamaram-lhe marxista por simpatizar com o pensamento socialista. Uma visão que lhe trouxe inimigos dentro e fora do país. Alguns acreditam que os serviços secretos dos EUA foram responsáveis pela sua queda.
Inspiração: Nkrumah inspirou-se na luta de libertação afro-americana. Conheceu Martin Luther King enquanto estava nos EUA e leu W.E.B. Dubois, sociólogo pan-africanista e ativista de direitos humanos com quem trocaria ideias. Enquanto estudava na Grã-Bretanha, Nkrumah cruzou-se com muitos outros africanos que lutaram pela independência, como Jomo Kenyatta, Haile Selassie, Julius Nyerere e Rupiah Banda.
Frases famosas:
"Não enfrentamos nem o Oriente nem o Ocidente: enfrentamos o futuro."
"As revoluções são provocadas pelos homens, por homens que pensam como homens de ação e agem como homens de pensamento."
"A liberdade não é algo que um povo pode dar a outro de presente. Reivindicam-na como sua e ninguém lha pode tirar."
Polémica: Em 2012, foi apresentada uma estátua de Nkrumah na sede da União Africana, em Addis Abeba. Mas porquê Nkrumah? Na Etiópia, muitos acharam que devia ter sido o ex-imperador Haile Selassie a ser distinguido por ser considerado o fundador da União Africana. No entanto, o primeiro-ministro etíope Meles Zenawi optou por Kwame Nkrumah.
Kwame Nkrumah nasceu na colónia britânica então conhecida como Costa do Ouro. Em 1930, embarcou num navio rumo aos Estados Unidos para estudar. Mais tarde, mudou-se para a Grã-Bretanha onde estudou Direito.
Nkrumah esteve fora do Gana 12 anos e nesse período foi-se tornando cada vez mais ativo em organizações políticas africanas no exterior. Em 1947, decidiu voltar ao seu país e insurgir-se contra o domínio colonial. Foi aqui que fundou o Partido da Convenção do Povo (CPP), que tinha como slogan "Independência já!". Uma década depois, em 1957, Nkrumah tornou-se o primeiro primeiro-ministro do Gana independente. Na altura, os seus apoiantes aclamaram-no em massa. Em 1960, Nkrumah tornou-se o primeiro Presidente do Gana.
"Único e especial”
"Nkrumah foi especial e único no sentido em que não pensou apenas no Gana", considera Wilhelmina Donkor, professora de História da Universidade Kwame Nkrumah. Sonhava com os "Estados Unidos de África". Uma visão que, lembra Wilhelmina Donkor, "atravessou o continente". "Foi por isso que na altura da independência, em 1957, ele fez essa famosa afirmação de que a independência de Gana só estaria completa quando estivesse ligada à libertação total de todo o continente", lembra a professora.
Foi esta visão pan-africana que fez de Nkrumah uma figura venerada além-fronteiras. No entanto, alguns acreditam que isso fez também com que Nkrumah ignorasse os problemas no seu próprio país. No início, as suas tentativas de construir uma indústria no Gana foram promissoras.
Mas após o golpe de Estado que derrubou Nkrumah em 1966, o país herdou uma economia paralisada e investimentos avultados em fábricas que não produziam. Nesta altura, os ganeses comemoraram a saída do poder de Nkrumah.
No entanto, Mike Ocquaye, historiador e político ganês, chama a atenção para a era pré-Nkrumah. "Antes da saída de Nkrumah, faziam-se filas no estádio para se conseguir uma ração de açúcar. É verdade que as fábricas não funcionavam porque começámos a correr antes de podermos caminhar. Mas é importante que o povo não fale apenas sobre a visão [pan-africana]", defende.
Além do colonialismo, Kwame Nkrumah também lutou contra o capitalismo. Era um acérrimo defensor de um "socialismo africano" que pudesse unir a justiça social e as tradições africanas. Mas colocar a teoria em prática revelou-se uma tarefa difícil. A abordagem política de Nkrumah no próprio país era muitas vezes contraditória com o socialismo sobre o qual escreveu. Uma realidade que, segundo Wilhelmina Donkor, continua a ser um interessante tema de estudo, mesmo meio século depois. "Nkrumah era um líder muito interessante porque, por um lado, parecia ter muita retórica sobre o socialismo, mas, na realidade, nem todas as suas políticas eram necessariamente de orientação socialista", lembra a professora.
Fora do Gana, Nkrumah é lembrado sobretudo por defender vigorosamente a ideia de uma união política africana. Uma ideia que se tornou, em parte, realidade com a criação, em 1999, da União Africana, que reconhece Nkrumah como um dos seus fundadores.

Fonte: DW Made for Minds



A DIVERSIDADE DAS ROTAS COMERCEIA.

Até hoje, pouco se sabe sobre as várias fases das rotas comerciais do passado longínquo dos antigos reinos que integram hoje o terri...