Até hoje,
pouco se sabe sobre as várias fases das rotas comerciais do passado longínquo
dos antigos reinos que integram hoje o território de Angola. Entretanto, a
distância socioeconómica das sociedades africanas desta região, permitiu a
abertura de rotas comerciais importantes que estabeleceram a ligação entre os
povos das diversas regiões, sejam as mais próximas ou as mais afastadas.
As fontes
minerais como sal, ferro, os níveis de produção provenientes da agricultura e
da pastorícia ou ainda de uma pequena indústria local (cerâmica, por exemplo),
foram suficientes para fazer movimentar homens e mercadorias e fomentar uma
complexa rede de comércio, primeiro para os mercados locais que supriam as
necessidades mais urgentes das populações locais e áreas vizinhas, ou para as
grandes feiras onde a amplitude das transacções comerciais exigia outros
recursos, sendo que os seus concorrentes eram provenientes de paragens mais
longínquas. A diversidade de unidade de troca nestas transacções explica por si
a complexidade destes circuitos comerciais.
De facto,
as redes comerciais tradicionais existiam para manter o fluxo de produtos entre
o litoral e o interior.
Com efeito,
só para citar alguns, paralelamente existia uma diversificada rede comercial
luso-africana, que ligava, por exemplo, o Ndongo com os mercados de Mbata,
Soyo, Loango, Maiombe e outros.
Do norte
importavam-se principalmente tecidos de ráfia que serviam, em Angola, como
moeda. Outros bens especialmente apreciados nos mercados locais eram, por
exemplo, penas de papagaio, cauda de elefante e madeira vermelha (a famosa
tacula).
Pode-se
mencionar também os povos Mobiri ou Vili do sul do rio Dande que,
provavelmente, já nesta altura, faziam negócios com mercadorias Holandesas.
Maior procura tinham, alem dos tecidos, as armas e munições cuja venda à
africanos pertencentes a coroa interditava os portugueses aos interior.
Todavia, no
interior não eram geralmente os europeus que desenvolviam os processos por eles
impulsionados e as feiras não eram igualmente criação europeia. Elas já
existiam para responder as solicitações do consumo interno e não só e, com o
acentuar desta intervenção, adaptaram-se ao novo quadro vigente. Quer isso
dizer, que o comércio de longa distância já existia antes da intervenção
europeia. O aspecto novo nesta interacção seria a ligação transatlântica das
mercadorias africanas que passaram a chegar a outros mundos.
Entretanto,
com a abolição do tráfico de escravos e a consequente necessidade de obtenção
de matéria-prima para movimentar as indústrias na Europa, essas rotas foram
sendo retomadas pelos novos parceiros comerciais com a intervenção dos
portugueses.
Para o
efeito, criaram-se caravanas lideradas por exploradores, que com o tempo
rapidamente transformaram-se em caravanas de carregadores lideradas por
comerciantes brancos, em primeiro lugar, mas também por alguns mestiços,
oriundos das comunidades luso-africanas que tiraram proveito das novas
possibilidades de posse territorial, de comércio e de ascensão social.
Os
caravaneiros eram conhecidos como carregadores, a maioria deles eram escravos à
mercê dos seus donos.
Ser
carregador não era uma actividade exclusiva de quem tinha a sua liberdade
apreendida. Era também uma profissão e entre os carregadores contavam-se homens
livres que optavam por assim ganhar a vida, levando nos ombros mercadorias ou
pessoas.
No final do
século XIX, em Angola, então portuguesa, existiam ainda cerca de 200 mil
carregadores. Só no século XX, com o início de construção sistemática de
estradas e caminhos-de-ferro, é que os carregadores deixaram gradualmente de
ser necessários.[1]
Como responderia?
1. Que função
desempenhavam as rotas comerciais no período pré-colonial?
a)
Cite as diferentes redes/rotas comerciais existentes na altura.
b)
Que produtos eram transacionados?
2. Cite as diferentes
redes/rotas comerciais existentes na altura.
3.
Explique como a ingerência/intervenção portuguesa alterou a
natureza das rotas comerciais tradicionais.
a)
Que nome receberam os caravaneiros e porquê?
[1]
As
caravanas de carregadores, no século XIX, criaram uma densa rede comercial e de
comunicação no interior de África. O mérito próprio dos africanos na exploração
da África Central, nomeadamente de Luanda às Lundas, é realçado no livro da
antropóloga e historiadora alemã Beatrix Heintze através de uma multiplicidade
de perspectivas, com especial relevo para o papel dos chefes das caravanas,
intérpretes e carregadores. Nessa altura, os exploradores europeus olhavam os
Africanos como seres menores. Eram muito poucos os que os consideravam como
«indivíduos por direito próprio». A literatura de viagens do século XIX está
cheia de preconceitos e da subestimação dos autóctones.