A POLÍTICA EXTERNA ITALIANA (1930-1939)
INTRODUÇAO
O nosso trabalho tem como tema “A política externa da Itália 1930 – 1939”, tem como proposta
estudar e analisar a política do Estado Italiano na arena internacional no
período compreendido entre 1930-1939.
A baliza cronológica de 1930 e 1939 justifica-se por ser
o ano de 1930 um ano em que a maior parte dos países europeus são atingidos
pela grande depressão. Por sua vez, o ano de 1939 tem sua particular
importância por ser o ano em que começa a segunda Guerra Mundial.
A razão da escolha deste tema reside no facto de ser um
tema actual e que carece de uma maior divulgação na comunidade académica.
Para uma melhor compreensão deste tema torna-se
imperativo conhecer a situação da Itália depois da primeira Guerra Mundial. Daí
a necessidade de dedicarmos um capítulo sobre a situação sociopolítica da
Itália apos a primeira Guerra Mundial.
Os autores consultados são uniformes em afirmar que o
projecto da Itália era de conquistar territórios para voltar a formar o antigo
império romano e unir os povos de língua latina, daí que a característica da
sua política externa foi particularmente expansionista. E pela profundidade com
que os autores abordam o tema tornaram-se indispensáveis para elaboração deste
trabalho.
Para a orientação do nosso trabalho levantamos a seguinte
problemática:
Qual foi a actuação da Itália em termos de política externa
no período de 1930-1939?
A problemática levantada levou-nos as seguintes
hipóteses:
1.
Com a
instalação do regime fascista após a primeira guerra mundial a Itália adoptou
uma política expansionista;
2.
A política
italiana tinha por objectivo conquistar territórios e formar um vasto império;
3.
A
política de expansão levou a que em 1936 a Itália se unisse e consolidasse as
suas afinidades ideológicas com Hitler formando o Eixo Roma-Berlim.
O objectivo geral do nosso trabalho é conhecer a política
externa da Itália no período entre 1930-1939.
E traçamos, para efeito, os seguintes objectivos
específicos:
- Caracterizar o contexto sociopolítico da Itália após a
primeira guerra mundial e;
- identificar as razoe que levaram a Itália a adoptar uma
política expansionista.
Como procedimento metodológico fizemos uso do método de
pesquisa bibliográfica, o que nos permitiu dar respostas a problemática em
volta do tema.
O tema em análise já
foi tratado por alguns autores como Daniel Aarão
Reis Filho: Século XX. O tempo das
crises. Revolução, fascismos e guerras. Volume II; William keylor: História do seculo XX – uma síntese mundial;
René Remond: Introdução a História do
nosso tempo – do antigo regime aos nossos dias; Pierre Milza: As relações internacionais de 1918 a 1939
e outras que achamos serem relevantes e nos socorremos destes autores para a
materialização do nosso trabalho.
O presente trabalho está estruturado em dois capítulos.
No primeiro capítulo fizemos uma breve caracterização da Itália no período pós
primeira guerra mundial até o início da grande depressão. Neste capítulo
constatou-se que a Itália vivia problemas económicos. Havia fragilidade do
sistema político e a situação agravou-se ainda mais com os efeitos da crise dos
pós 1ª guerra mundial que provocou a instabilidade social. Apesar de estar ao
lado dos vencedores, a Itália sentia-se humilhada por não ter conseguido
atingir os seus objectivos que era de recuperar as terras irredentas,
especialmente a fronteira italiana com a Áustria. Todos esses aspectos
permitiram a formação do fascismo e sua consolidação, o que teve implicações
directas tanto na política interna como externa.
No segundo capítulo, analisamos a política externa da
Itália que teve duas características distintas: a de aspecto diplomático e
expansionista.
A primeira foi de aspecto diplomático, na qual sob a justificativa de
proteger o frágil Estado da Áustria da influência alemã e da possível ameaça
italiana através do passo de Brenner, Mussolini teve uma atitude amigável em
relação a Grécia, Hungria e Albânia; cultivou boas relações com a Grã-Bretanha;
assinou o pacto de não-agressão com a URSS em Setembro de 1933; apoiou o
governo antinazista do chanceler Engelbert Dollfus e assinou acordos comerciais
com a Áustria e a Hungria.
A segunda,
de aspecto expansionista começa com a
invasão das tropas italianas na antiga Abissínia (Etiopia) em Outubro de 1935.
A Itália, na pessoa de Mussolini, tinha duas frentes: a
primeira estava virada para o Mediterrâneo e para a África onde predominavam os
interesses Franceses e Britânicos, o que obrigava o governo de Roma a chegar a
um compromisso com estas potências ou então a conseguir o apoio de Berlim.
Portanto, gostaríamos de
afirmar que no trabalho que apresentamos não pretendemos abordar todos aspectos
ligados à política italiana de 1930 a 1939, importa apenas salientar alguns
imediatamente relevantes na medida em que esta referência nos poderá ajudar a
compreender a visão da temática em epígrafe e indicar caminhos para posteriores
pesquisas.
CAPÍTULO I: A ITÁLIA DEPOIS DA 1ª GUERRA MUNDIAL
– SITUAÇÃO POLÍTICA, ECONÓMICA E SOCIAL.
No início do seculo XIX a Itália vivia problemas
económicos. Do ponto de vista de desenvolvimento era um país assimétrico. A
região norte do país era industrializada ao nível de outras partes da Europa e
o sul era uma população maioritariamente agrária e havia uma oligarquia com uma
espécie de clientelismo.
Quando em 1914 estourou a guerra, o governo italiano
abandonou a Tríplice Aliança, se declarou neutro e mais tarde afiliou-se à
Cordial Etente. Depois de assinar o Tratado
de Londres[1]
com as potências aliadas, a Itália declarou guerra ao Império Austro-húngaro,
ao Império otomano e à Alemanha.
Depois do conflito realizaram-se conferências das quais
assinaram-se outros tratados. Um destes foram os Tratados de Locarno, no qual participou a Itália. Estes tratados
foram negociados
em Locarno, Suíça, em 16 de Outubro
de 1925, e assinados em Londres em 1º de Dezembro
de 1925.
Á base dos tratados de
Locarno a Itália tomou o controlo do
Trentino-Alto Adige, do Trieste, da Ístria e do Tirol meridional, mas ficou
decepcionado quando os acordos assinados não garantiam tomada do resto dos
territórios que o Tratado de Londres contemplava, especialmente a fronteira
italiana com a Áustria. Essa insatisfação gerou a questão do irredentismo
italiano. O movimento irredentista foi mais tarde hegemonizado na história da
Itália fascista, que o fez um instrumento de propaganda nacionalista e
imperialista.
Já desde 1918, a Itália encontrava-se em uma situação crítica,
apesar de pertencer ao bloco dos vitoriosos da guerra. O seu orgulho nacional
sofrera humilhações nos campos de batalha com um número de mortos que chegaram
à casa dos 650.000 e as pretensões expansionistas almejadas antes do conflito
não consolidados.
A Itália
não havia conquistado os benefícios correspondentes aos desgastes e perdas
sofridas durante o conflito. De tudo aquilo que ela pensava receber da partilha, depois da derrota da
Alemanha e da Austria, a maior parte ficou com a França ou com a Inglaterra. Em
outras palavras, para a Itália a guerra foi um mal negócio.
Por
outro lado a situação económica depois da guerra era grave. O país passava por
problemas como atrasos ou heranças de guerra: destruição, inflação causada pelo
emissionismo, dívidas de empréstimos, desemprego, depreciação da moeda local a
lira, grandes agitações sociais e etc.
Dentro
deste cenário, a crise logo se transformou em ingredientes para uma revolução.
O número de greves cresceu assustadoramente após 1919; revoltas e pilhagens
conduzidas pela população desempregada; nos campos as revoltas camponesas também
aumentavam.
O
poder político mostrava-se incapaz de acabar com a crise. A burguesia sentia-se
ameaçada pela revolta social e pela crescente simpatia a teorias sociais
alternativas como o comunismo. Decidiram então apoiar um grupo político
pequeno, mas muito bem organizado e disposto a acabar com a onda
revolucionária: Os Fascistas.
Assim
os movimentos de extrema-direita começaram a crescer e mais a frente a Itália
se via entrar em um mundo fascista.
A
partir de 1919, centros urbanos e rurais se tornaram grandes palcos da miséria
e da dificuldade económica sofrida pelo povo italiano. Em resposta a tantos
contratempos, esse mesmo período também ficou marcado pela deflagração de
greves, agitações político-revolucionárias e a invasão de terras e fábricas.
O
governo parlamentar italiano, dominado pelo Partido Socialista e pelo Partido
Popular, não conseguiu responder aos anseios da população, promovendo a
impopularidade de sua actuação política. Foi nesse quadro social e político
instável que o ex-líder socialista Benito Mussolini começou a ganhar destaque.
Actuando
inicialmente em pequenas milícias anticomunistas, formadas pelos
“camisas-negras”, Mussolini[2]
começou a angariar o apoio das elites e de outros sectores da sociedade
italiana. Esse grupo, logo depois, deu origem a um novo partido comandado por
Benito Mussolini: o Partido Nacional
Fascista.
Entre
os principais aspectos defendidos pelos fascistas, podemos destacar a crítica
ao regime republicano e o liberalismo económico. Além disso, os fascistas lutavam
contra os movimentos sindicais e os grupos políticos comunistas. Contado ainda
com um forte apelo nacionalista, o fascismo italiano conseguiu atrair
conservadores e os sectores médios da sociedade.
Com
a consolidação do movimento, em 1922, Mussolini organizou a “Marcha sobre Roma”. Contando com cerca
de 50 mil “camisas-negras” o
movimento fascista forçou a deposição do rei Vitor Emanuel III e o
estabelecimento de um novo governo liderado por Benito Mussolini. Entre os anos
de 1922 e 1925, o novo governo fascista conseguiu reaquecer a economia italiana
e, por meio de eleições fraudulentas, obter a maioria no Parlamento.
Os
números positivos alcançados por Mussolini proveram as condições favoráveis
para que ele reprimisse os partidos de oposição e os movimentos sindicais.
Dessa maneira, em 1926, Mussolini promoveu a centralização do poder político.
Suprimiu o direito à greve, estabeleceu o sistema unipartidário (contando
apenas com o Partido Nacional Fascista) e subjugou o Poder Legislativo ao Poder
Executivo.
Alcançando
o posto de Duce (líder supremo),
Mussolini divulgou um documento que tratou das questões trabalhistas. Na Carta Del Lavoro (“Carta do Trabalho”),
ele defendeu a tese corporativista, onde o operariado deveria se harmonizar aos
interesses do Estado e da burguesia industrial.
Sob
outros pontos o fascismo italiano também mostrou sua ação controladora. Os
jovens eram incentivados a ingressar nas instituições militares e os livros
didáticos eram exclusivamente produzidos pelo Estado. Sob o lema “crer, vencer e combater”, a veneração
aos símbolos nacionais e a adoração a Benito Mussolini também eram práticas
amplamente incentivadas.
Em
1929, o governo fascista ainda buscou o apoio da Igreja Católica. Os acordos
estabelecidos pelo Tratado de Latrão[3]
selaram um acordo diplomático entre Mussolini e a Igreja. Entre outros pontos,
o tratado estabeleceu a criação do Estado do Vaticano como um território
politicamente controlado pela Igreja e fez do catolicismo a religião oficial da
Itália.
Naquele
mesmo ano, com o desequilíbrio da economia capitalista, Mussolini iniciou um
projecto imperialista que visava restaurar os domínios do antigo Império
Romano. Como veremos adiante.
CAPÍTULO II: A POLITICA EXTERNA ITALIANA.
2.1. OS PRIMEIROS PASSOS DA POLÍTICA EXTERNA FASCISTA.
A
partir de 1926, a Itália de Mussolini passou a ser mais um factor de
turbulência internacional. Até esta data, Mussolini, que está vivamente
interessado nos problemas diplomáticos mas sem experiência absolutamente
nenhuma no assunto, vai deixar o secretário – geral do Ministério do Negócio
Estrangeiros, Contarini, continuar a seguir a linha leve adoptada em 1920 –
1921 pelo conde Carlo Sforza.[4]
Nos
primeiros anos do regime, a política externa italiana era o resultado de um
compromisso entre preocupações de prestígios e a vocação agressiva do fascismo
e os métodos prudentes dos diplomatas de profissão.
O
problema de Corfu estava ligado à primeira tendência. Nos finais de Agosto de
1923, um grupo de oficiais italianos, encarregues pela conferência dos
embaixadores de delimitar a fronteira greco – albanesa foi massacrado em
território grego por bandidos epirotas. Mussolini faz um ultimato ao governo de
Atenas, exigindo uma indemnização de 50 milhões de liras e o fuzilamento
imediato dos culpados. Como o governo grego só satisfaz parte das suas
exigências, o Duce mandou bombardear Corfu e envia tropas para a ilha.[5]
Quando
a Grécia se queixou ao conselho da SDN, Mussolini ameaçou abandonar Genebra,
mas por fim aceitou o compromisso proposto pela conferência dos embaixadores,
que retomou os termos ultimato italiano, embora de um modo mais suave e
conferindo – lhe um carácter internacional. Mas exige também a retirada de
Corfu.
A
pressão dos britânicos, cuja frota estacionada em Malta fora posta em estado de
alerta, foi sem dúvida determinante, mas é contra a organização de Genebra, que
qualificava de «fóssil do século passado», que se dirige a ira de Mussolini.
A
questão de Corfu permitiu ver as possibilidades reais da Itália e evidenciou o
seu isolamento diplomático, à excepção do apoio desmesurado que o governo de Henri
Poincaré lhe deu. Tendo conseguido uma solução a seu contento, Mussolini foi
durante algum tempo seguir os conselhos de Contarini e adoptou a política de «boa vizinhança» que o secretário – geral
dos Negócios Estrangeiros preconizava.
A
França do Bloco Nacional é o primeiro país com quem o Duce desejava estreitar
relações. Essa aproximação foi facilitada pelo regresso ao poder dos
conservadores e pela chagada de Austen Chamberlain ao Foreign Office.[6]
Das
boas relações cultivadas com a Grã-Bretanha, a Itália apoiou sua demanda de que
a Turquia entregasse a província de Mosul ao Iraque e, em retorno, a
Grã-Bretanha deu à Itália uma pequena parte da Somália.[7]
Outra
consideração era o receio dos italianos de que o frágil Estado da Áustria,
junto de sua fronteira nordeste, pudesse sofrer muita influência da Alemanha.
Mussolini se preocupava com uma possível ameaça italiana através do Passo de
Brenner e tentou lidar com ambos os problemas por meios diplomáticos.
Passou
a ter uma atitude amigável em relação a Grécia, Hungria e, principalmente,
Albânia, o vizinho do sul e rival da Iugoslávia. Foram assinados acordos
económicos e de defesa, resultando em um controlo praticamente total da Albânia
pela Itália, que passou a ter uma posição forte em torno do mar Adriático.
A
Itália se tornou o primeiro Estado depois da Grã-Bretanha a reconhecer a URSS.
Foi assinado um pacto de não-agressão entre a Itália e a URSS em Setembro de
1933.
A
Itália tentou apoiar a Áustria contra a nova ameaça da Alemanha nazista,
apoiando o governo antinazista do chancelar Engelbert Dollfuss e assinando
acordos comerciais com a Áustria e Hungria. Quando Dollfuss foi assassinado por
nazistas austríacos, em Julho de 1934, Mussolini enviou três divisões italianas
à fronteira para o caso de os nazistas invadirem a Áustria; os nazistas
imediatamente suspenderam sua tentativa de tomar o poder na Áustria. Essa
decisiva postura contrária à Alemanha melhorou as relações entre Itália e
França, mas embora fosse muito respeitado no exterior, Mussolini estava ficando
impaciente; seus êxitos não eram espectaculares o suficiente.[8]
2.2. REVISIONISMO E EXPANSIONISMO.
O
ano de 1926 assinala uma mudança brusca de orientação, tanto a nível nacional
como a nível internacional. Tendo procedido a uma reorganização militar
(concentrando nas suas mãos o Ministério da Guerra, o do Ar e o da Marinha)
Mussolini rompeu deliberadamente com a política de «boa vizinhança» e passou a
encabeçar uma coligação de países descontentes com o status quo estabelecido por Versalhes. Esta política colidiu
frontalmente com o clima de desanuviamento que Briand e Stresemann tentaram
criar e que a retoma económica favorecia.[9]
Em
desacordo com esta nova orientação, Contarini abandonou o cargo em 1926. Com
ele desapareceu o principal travão aos desvarios aventureiros do Duce. A
chegada de Dino Grandi ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, em 1929, foi,
numa primeira fase, reforçar a tendência dura. Além disso, assistiu-se, no
início dos anos 30, a uma progressiva fascização do pessoal diplomático.
A
partir do ano de 1930, Mussolini pensou primeiro numa expansão no Mediterrâneo,
muito particularmente na Síria e na Ásia Menor. Apesar das recomendações da
Grã-Bretanha a se ter mais moderação nos passos a dar, Mussolini renunciou a um
revisionismo de expansão, assente no apoio dos vencedores e se tornou a campeã
do revisionismo dos vencidos. Passou a apoiar os países da Europa central e
danubiana que pretendiam conseguir a revisão dos tratados.
Até
1929, estes entorses ao desanuviamento estavam enquadrados por um clima
internacional que decorria sob os efeitos benéficos da prosperidade. Mas nos 30
a prosperidade na Europa acabou e todo edifício da segurança colectiva, que tao
dificilmente tinha sido posto em prática nos anos anteriores se desmoronaram.[10]
Dessa
maneira, as forças militares italianas invadiram regiões da África buscando pôr
tal projecto em prática. Com essas primeiras investidas, o governo de Benito
Mussolini deu início às tensões diplomáticas que conduziriam a Europa ao
início da Segunda Guerra Mundial.
2.2.1. A INVASÃO DA ABISSÍNIA (ETIÓPIA) PELA ITÁLIA
FASCISTA.
A
crise ítalo-abissínia teve o seu início em Dezembro de 1934, com o incidente de
Ual-Ual, localidade fronteiriça etíope que forças italianas vindas da Somália
haviam previamente ocupado. A crise culminaria, a 3 de Outubro de 1935, na
invasão do Império Etíope (ou Abissínia) pela Itália fascista, objectivo há
muito anunciado por Mussolini.
A
guerra prolongou-se por sete meses até à conquista de Adis Abeba, em Maio de 1936.
Ignorando os seus compromissos internacionais, Mussolini justificou a invasão
invocando razões contraditórias: por um lado, o direito de a Itália defender as
fronteiras das suas colónias dos alegados ataques da vizinha Abissínia (a
realidade era a inversa) e, por outro, o direito abstracto de alargar o império
italiano, argumentando com o excedente demográfico do seu país e as
necessidades de expansão económica.
Segundo
Norman Lowe, a invasão da Abissínia pela Etiopia foi a grande virada na
carreira de Mussolini. O envolvimento italiano no país, que era o um dos Estado
independentes que restava na África, datava de 1896, quando uma tentativa
italiana de colonizá-la terminou em uma derrota infame em Adua. Para tanto, as
razões de Mussolini para o ataque de 1935 eram:
a)
As colónias italianas no leste da África (Eritreia e
Somália) não eram compensadoras, e as tentativas dele (por meio de um acordo de
“amizade” assinado em 1928) de reduzir a Abissínia a uma posição equivalente à
da Albânia tinham fracassado. O imperador da Abissínia, Haile Selassie, tinha
feito tudo o que podia para evitar cair sob dominação económica italiana.
b)
A Itália estava sofrendo com a depressão, e uma guerra
vitoriosa desviaria a atenção dos problemas internos e daria um novo mercado para
as exportações do país.
c)
Agradaria a nacionalistas e colonialistas, vingaria a
derrota de 1896 e daria um impulso à decante popularidade de Mussolini.[11]
A
Abissínia era então, com a Libéria, um dos dois únicos países africanos livres
do domínio colonial. Esquecendo o apoio que a Itália dera em 1923 à entrada da
Etiópia na Sociedade das Nações (SDN, sediada em Genebra) e o tratado de
amizade celebrado entre os dois países em 1928, Mussolini proclamava agora a
urgência de pôr fim à escravatura e de levar a civilização àquelas paragens
“bárbaras”, no quadro da “missão italiana em África”.
Os
bombardeamentos aéreos contra a população etíope e a utilização de armamento
químico suscitaram uma onda de condenação da Itália na imprensa europeia.
O
conflito ítalo-abissínio é considerado um dos acontecimentos precursores da
Segunda Guerra Mundial. Antes mesmo da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), foi
esse conflito que primeiro fez falar da iminência de uma nova guerra na Europa
pós-1918.
A
aventura abissínia, que serviu primeiramente objectivos internos do regime
fascista[12]
suscitou um conflito internacional protagonizado também pela Grã-Bretanha,
potência tutelar da SDN. Esta liga, criada em 1920 na sequência do Tratado de
Versalhes, viu-se incapaz de resolver o conflito e de impedir a guerra entre a
Itália e a Etiópia, dois países membros da organização.
A
tentativa de arbitragem do incidente fronteiriço no quadro da SDN, as propostas
franco-britânicas de conciliação, a concentração de forças navais inglesas no
Mediterrâneo, a ameaça de sanções económicas da SDN contra a Itália, tudo foi
ineficaz para evitar a agressão italiana ou para repor a paz. Este insucesso
representou uma viragem nas relações internacionais, deitando por terra as
esperanças postas nos mecanismos de segurança colectiva criados no fim da
Grande Guerra e lançando definitivamente o descrédito sobre a SDN, pois apesar do protesto formal da Liga das Nações, nenhuma acção foi tomada contra a Itália.
Os
Estados Unidos nunca tinham aderido à organização e o Japão e a Alemanha
hitleriana tinham-na abandonado em Fevereiro e Outubro de 1933,
respectivamente. A oposição das potências democráticas europeias à aventura
imperial de Mussolini contribuiu para afastar a Itália da frente que a
Grã-Bretanha pretendia liderar para fazer face ao rearmamento alemão e à
política revanchista de Hitler.[13]
A
França, governada então pelo futuro colaboracionista Pierre Laval[14],
estava mais disposta a fazer cedências à Itália do que a cooperar militarmente
com a Grã-Bretanha. Hitler, por seu turno, perante a ausência de uma firme
reacção concertada dos governos aliados à invasão da Etiópia, ganhou coragem
para o episódio da remilitarização da Renânia, em 7 de Março de 1936, quando
ainda decorria a guerra da Abissínia. Por seu turno, a ocupação militar da
Renânia teve o condão de dissuadir a Grã-Bretanha de propor novas sanções
contra a Itália, abandonando assim a Etiópia à sua sorte.
A
reacção inglesa à invasão foi, pois, frouxa e inconsequente — Mussolini
chamou-lhe bluff e tinha boas razões para o pensar[15] —,
como se a Grã-Bretanha não se importasse tanto com o destino dos etíopes e
desejasse principalmente evitar fornecer à Itália fascista um pretexto para
cortar com as potências aliadas e cair nos braços de Hitler.
As
razões para esta postura fraca diante da Itália eram que a Grã-Bretanha e a
França estavam militar e economicamente despreparadas para a guerra e ansiosas
para evitar qualquer acção (como sansões relacionadas ao petróleo) que pudesse
provocar uma declaração de guerra por parte de Mussolini. Também tinham
esperanças de reavivar a Frente de Stresa[16] e
usar a Itália como aliada contra a verdadeira ameaça contra a paz na Europa, a
Alemanha, de forma que seu objectivo era chegar à conciliação com Mussolini.
Infelizmente,
os resultados foram desastrosos:
·
A Liga e a ideia de segurança colectiva ficaram
desacreditadas;
·
Mussolini ficou incomodado com as sansões de qualquer
forma, e começou a estabelecer amizade com Hitler que não havia criticado a
invasão e não aplicou sansões. Em retorno, Mussolini suspendeu suas objecções à
anexação da Áustria pela Alemanha e Hitler aproveitou a preocupação geral com a
Abissínia para mandar tropas para a Renânia.[17]
Divergências
entre os conservadores britânicos e o receio de precipitar de imediato uma
guerra europeia foram factores que desencorajaram o uso da força naval pela
Grã-Bretanha. A secreta esperança de ver a Itália embrenhada numa guerra longa
e difícil em África também pode ter influenciado a atitude britânica. Esta
mesma ideia perpassou pela mente do então ministro dos Negócios Estrangeiros
português, Armindo Monteiro[18].
Mas a frouxidão, a prudência e o hipotético maquiavelismo britânicos não
conseguiram evitar a aproximação da Itália à Alemanha de Hitler, que,
contrariamente às potências democráticas, não se opôs à invasão da Etiópia e
rejeitou as sanções económicas da SDN contra a Itália.
Apesar da superioridade militar, do ponto de vista
tecnológico, da Itália, as forças etíopes apresentaram mais resistência do que
os italianos tinham previsto, que levou-os a utilizar armas químicas, inclusive nas populações civis. Este facto que não foi
noticiado na imprensa italiana da época, e muito pouco na restante.
A guerra fez mais de meio milhão de mortos entre os africanos, face a cerca de 5.000 baixas do lado italiano.
2.2.1.1. A PROCLAMAÇÃO DO IMPÉRIO.
A vitória foi oficialmente comunicada por Mussolini ao
povo italiano na tarde de 5 de Maio de 1936, depois de uma mensagem do marechal Pietro Badoglio.
Em 7 de Maio, a Itália anexou oficialmente a Abissínia, e em 9 de Maio, do balcão do Palácio Veneza, Mussolini anunciou o fim da guerra e proclamou o
nascimento do Império, reservando para Vítor Emanuel III o cargo de Imperador da Etiópia e de Primeiro Marechal do
Império.
Mussolini estabeleceu que na indicação da data em documentos
oficiais e jornais se escrevesse, ao lado dos anos a contar desde o nascimento
de Jesus, também aquele a começar a partir de 28 De Outubro de 1922 (tal
disposição já estava em uso) e da fundação do Império (por exemplo, 1936 era
indicado como "ano 1936, XIV da Era Fascista, I do Império").
Assim, a Eritreia, a Abissínia e a Somália Italiana foram reunidas sob um único governador e a nova possessão
imperial foi denominada “África Oriental Italiana”.
Em 4 de Julho de 1936 a Sociedade das Nações decretou terminada a aplicação do artigo XVI e as
sanções caíram dia 15 do mesmo mês (o único Estado que se opôs foi África do Sul).
Por um certo período na Etiópia se verificaram contínuos
ataques de guerrilhas fieis ao imperador recém-deposto, que foram duramente
reprimidas com fuzilamentos sumários.
A
aproximação assim gerada entre a Itália e a Alemanha reforçar-se-ia, pouco
depois, com a intervenção de ambas na Guerra Civil Espanhola ao lado de Franco,
culminando, em Outubro de 1936, na assinatura de um tratado de amizade entre os
dois países. A partir de Novembro desse ano, Mussolini começaria a falar no “Eixo
Roma-Berlim”, abrindo caminho para o reconhecimento italiano do Anschluss[19]
(1938), para o “Pacto de Aço” (1939) e para o Tratado Tripartido
(1940), que ligaram definitivamente a Itália fascista aos destinos da Alemanha
nazi.
2.2.2. A PARTICIPAÇÃO DO EIXO ROMA-BERLIM NA GUERRA CIVIL
ESPANHOLA.
A participação estrangeira (ou a sua
ausência) na Guerra Civil Espanhola foi vital no desenrolar do conflito e, em
última medida, foi ela a determinar o seu desfecho final. Para se perceber a
sequência de acontecimentos que levou à assinatura, por parte de 27 países, em
Agosto de 1936, do acordo de não intervenção no conflito espanhol há que levar
em consideração o receio generalizado da Europa não fascista de se envolver
novamente num conflito de grande escala. Assim, a política oficial do governo
inglês de apaziguamento a qualquer custo, deixando passar em claro o
rearmamento alemão e a ocupação italiana da Etiópia, arrastou consigo o governo
francês de Frente Popular de Léon Blum. A 8 de Agosto de 1936, a França fechava
a sua fronteira com Espanha, deixando o lado republicano entregue
exclusivamente ao apoio voluntarista dos brigadistas internacionais e ao auxílio
distante da União Soviética.
O eixo Roma-Berlim, por seu turno, e
apesar de ter assinado o mesmo acordo de não intervenção, nunca deixou de colaborar
com a facção nacionalista, ajudando de forma fulcral a inverter o sentido
inicial do conflito.
Com efeito, o pronunciamento militar
de Julho começara por encontrar forte resistência na Espanha continental,
onde a Força Aérea e a Marinha se haviam mantido fiéis ao governo. Esta
situação só viria a ser alterada pela chegada das forças do exército africano
estacionado em Marrocos que, liderado pelo General Francisco Franco, começa a
ser aerotransportado para a Península Ibérica.
Durante os dois primeiros meses do
conflito, a força aérea alemã (Luftwafe) coloca no continente mais de 10.000
homens leais aos revoltosos. Altera-se deste modo a relação de forças do
conflito e Franco assume-se cada vez mais como líder das forças nacionalistas.
A este episódio, Norman Lowe nos
explica que quando a guerra civil Espanhola estourou em 1936, Mussolini mandou
ampla ajuda a Francisco Franco Bahamonde,
o líder de direita, com esperança de estabelecer um terceiro Estado fascista na
Europa e ter bases navais na Espanha de onde pudesse ameaçar a França. Sua
justificativa era que ele queria impedir o avanço do comunismo.[20]
A participação italiana é de longe a
mais numerosa de qualquer potência estrangeira no conflito. Mussolini via na
Guerra Civil Espanhola a hipótese de afirmar internacionalmente os seus desejos
imperialistas (negados de forma vexatória para o país nos Tratados de
Versalhes) e de demonstrar a Hitler que era um aliado de peso numa frente comum
nazi-fascista. Em Janeiro de 1937 encontravam-se já em solo espanhol perto de
44.000 soldados italianos, colaborando activamente em operações militares,
sendo que o seu número chegou a ultrapassar os 50.000 em meados do mesmo ano.[21]
Motivado pela vitória em Málaga, a 8 de
Fevereiro, Mussolini ordena o Corpo di
Truppe Volontarie, como eram conhecidas as forças de italianas, a assumir o
papel principal na tentativa de cerco de Madrid, liderando as forças
nacionalistas na batalha de Guadalajara. A derrota foi estrondosa,
principalmente se tivermos em consideração que a ofensiva envolvia 35.000
homens contra apenas 10.000 republicanos. Em cerca de 2 semanas o CTV (Corpo di Truppe Volontarie) perde 6.000
homens e forças governamentais conseguem resistir ao ataque e avançar sobre as
linhas nacionalistas. Dali em diante as forças italianas nunca mais lideraram
qualquer ataque, ficando o CTV conhecido ironicamente nos meios republicanos
por “Cuando Te Vas”. Foi ainda
apreendida documentação que provava o envolvimento directo do exército
italiano, e não de voluntários, como a propaganda queria fazer crer. Contudo,
mais uma vez a Comissão de Não Intervenção optou por ignorar a realidade dessa
intervenção e o apoio italiano manteve-se.
A participação alemã na Guerra Civil
Espanhola, por seu lado, foi feita com o recurso a um número relativamente
reduzido de homens, principalmente quando comparada com a força italiana.
Contudo, o seu apoio foi bem mais eficaz devido aos meios técnicos empregues. A
“Legião Condor”, constituída em Novembro de 1936 como resposta ao apoio militar
soviético aos republicanos, era inicialmente composta por um grupo de 100
aviões, entre bombardeiros e caças, e cerca de 5.000 homens. Para a Alemanha
nazi, a participação na Guerra Civil serviu para testar o seu novo arsenal
aéreo, como viria a admitir Hermann Goring no Tribunal de Nuremberga: “Com a
autorização do Führer, enviei grande parte da minha frota de transporte, alguns
caças experimentais, e armas antiaéreas; e dessa forma tive a opotunidade de
verificar, em condições de combate, se o material correspondia ao que havia
sido encomendado”.[22]
Com as crescentes dificuldades das
forças nacionalistas, o número de efectivos alemães foi sendo alargado,
chegando a atingir mais de 12.000 homens e a incluir destacamentos terrestres.
Esta força respondia directamente às ordens do General Franco e participou nas
maiores batalhas do conflito, fazendo pender o seu desfecho para o lado
nacionalista.[23]
O episódio mais marcante da
participação da Legião Condor ocorreu a 26 de Abril de 1937 quando bombardeou a
cidade basca de Guernica. Situada a 15 quilómetros da frente republicana, a
cidade não era um alvo com relevância estratégica e a desproporção do
bombardeamento leva a crer que o objectivo era semear o terror na população e
nas forças governamentais e arrasar um símbolo fundamental da afirmação da
Euskadi. E esse objectivo foi de facto atingido.
2.2.3. A
INVASÃO DA ALBÂNIA.
Quando
a Itália chegou a um entendimento com Hitler, conhecido como Eixo Roma-Berlim[24],
Mussolini dizia que o Eixo era uma linha desenhada entre Roma e Berlim, em
torno da qual “todos os Estados europeus que desejassem a paz poderiam girar”.[25]
Essa
inversão da política anterior de Mussolini e sua amizade com a Alemanha não
eram completamente bem vistas na Itália, e começou a se espalhar a decepção com
Mussolini. Sua popularidade ressurgiu temporariamente com a participação no Acordo
de Munique[26],
de Setembro de 1938, que parecia ter garantido a paz, mas Mussolini não
conseguiu tirar as conclusões certas do alívio sentido por seu povo (ou seja, a
maioria não queria outra guerra) e cometeu mais um acto de agressão: invadindo
a Albânia.[27]
A
Itália invadiu a Albânia em 7 de Abril de 1939, cinco meses antes do
início da Segunda Guerra Mundial. A resistência armada albanesa se mostrou
ineficaz contra os italianos, e depois de uma tentativa de resistência a curto
prazo, o país foi dominado. Dois dias depois da invasão, o Rei Ahmet Zogu fugiu
para a Grécia, apesar da antiga aliança com a Itália estabelecida logo após a
abolição do Principado, em 1925.
Para
Norman Lowe, esta foi uma operação sem sentido, uma vez que a Albânia já estava
sob o controlo económico italiano. Mas o líder político da Itália, Benito
Mussolini resolveu expandir seu império, anexando a Albânia como uma forma de
tentar se igualar à Alemanha Nazista, que havia anexado a Áustria e partes da Checoslováquia.[28]
Com
esta invasão a Albânia deixou de existir como país independente e tornou-se um
componente do Império Italiano, sendo transformada em um protectorado italiano, semelhante aos protectorados alemães da Boémia e da Morávia, na qual a terra era um território autónomo da Itália, que seria projectado para colonização e eventual "italianização".
A
Albânia foi muito importante histórica e culturalmente para o nacionalismo dos
fascistas italianos. Por exemplo, o território da Albânia havia sido, há mais
de mil anos, território do Império Romano, sob o nome de Ilíria, antes mesmo da
colonização do norte da península itálica pelos romanos. Mais tarde, algumas
áreas costeiras, como Durrës, haviam feito parte da República de Veneza por
muitos anos. Estrategicamente, o controle da Albânia deu à Itália uma posição
nos Balcãs para a invasão da Grécia, que aconteceu em 1940.
Desde
o início, os assuntos estrangeiros albaneses, assim como os recursos naturais
ficaram sob o controle directo da Itália. Todos os recursos de petróleo na Albânia passaram
pela Agip, empresa estatal de petróleo da Itália. O partido fantoche, o Partido
Fascista Albanês, se tornou o único partido legalizado no país e permitiu que
cidadãos italianos ficassem na Albânia como colonos e com direito de
propriedade, para realizar a italianização da Albânia.
Após
a ocupação da Albânia e instalação de um novo governo, as economias da Albânia
e da Itália foram conectados através de uma união aduaneira, que resultou na
remoção da maioria das restrições comerciais.
Através
desta união, o sistema tarifário italiano foi posto em prática na Albânia.
Devido aos prejuízos económicos esperados na Albânia a partir da alteração na
política tarifária, o governo italiano compensou a Albânia cada ano com 15
milhões de leks. Leis aduaneiras italianas foram aplicadas na Albânia e apenas
a Itália poderia criar tratados com terceiros. O capital italiano foi
autorizado a ter a posição dominante na economia albanesa, como resultado, as
empresas italianas foram autorizadas a deter monopólio na exploração de recursos naturais albaneses.
Mas
adiante, em Outubro de 1940, durante a Guerra Greco-Italiana, a Albânia
serviu como uma área de preparação para a invasão mal-sucedida da Grécia.
Mussolini planejava invadir a Grécia e outros países como a Iugoslávia na área
para dar a Itália o controle territorial da maior parte do litoral do mar
Mediterrâneo, como parte do objectivo de conquista fascista chamado de Mare Nostrum ("nosso mar") em
que a Itália dominaria o Mediterrâneo.
Portanto,
deixando-se entusiasmar por seus êxitos, Mussolini assinou uma aliança integral
com a Alemanha, o Pacto de Aço, em Maio de 1939, no qual a Itália prometia
apoio militar total em caso de guerra. Mussolini estava comprometendo a Itália com
um envolvimento cada vez mais profundo com a Alemanha, o que viria a destrui-lo
no final.
CONCLUSÃO.
Como vimos, o fascismo foi de
certa forma o resultado de um sentimento geral de ansiedade e medo dentro da
classe média na Itália do pós-guerra, que surgiu no seguimento da convergência
de pressões interrelacionadas de ordem económica, política e cultural. Sob o
estandarte desta ideologia autoritária e nacionalista, Mussolini foi capaz de
explorar os medos perante o capitalismo numa era de depressão pós-guerra, o
ascendente de uma esquerda mais militante, e um sentimento de vergonha nacional
e de humilhação que resultaram da "vitória mutilada" da Itália nos
tratados de paz pós Primeira Guerra Mundial. Tais aspirações nacionalistas não
realizadas (ou frustradas) manchavam a reputação do liberalismo e do
constitucionalismo entre muitos sectores da população italiana.
Já no poder, Mussolini enveredou por uma
política expansionista movido pelo sentimento irredentista.
A política expansionista italiana de Mussolini levou a
intervenção da Itália a invadir a Abissínia, a Albânia e a intervir-se na
guerra civil de Espanha em 1936 ao lado de Francisco Franco com os seguintes
objectivos:
O primeiro de ordem estratégica: Mussolini preocupado com
a concretização do seu sonho de um império no mediterrâneo exigiu de Franco,
como contrapartida da ajuda que lhe havia prestado, uma colaboração politica no
mediterrâneo ocidental. A Itália procurou assegurar, a partir das posições que
ocupava em Espanha, bases de partida para uma eventual expansão no
Mediterrâneo.
O segundo de ordem psicológica: viu a intervenção em
Espanha a ocasião para fortalecer a alma italiana e afirmar as suas qualidades
de chefe militar.
Para fortalecer sua política de expansão, Mussolini
chegou a um entendimento com Hitler em 1936, conhecido como Eixo-Roma Berlim.
Em 1937 a Itália aderiu ao Pacto Anticomintern com a Alemanha e o Japão e ao
acordo de Munique em Setembro de 1938. Em Abril de 1939 a Itália invadiu a
Albânia e, finalmente, em Maio de 1939 assinou uma aliança integral com a
Alemanha, o Pacto de Aço, no qual a Itália prometia apoio militar em caso de guerra.
Assim como a maioria das guerras da História, que várias
vezes tiveram seu início provocadas principalmente por expansão e ocupação
territorial, a Segunda Guerra Mundial não foge a regra. Esta foi originada por
um conjunto de políticas viradas ao expansionismo levada a cabo pelos países do
chamado Eixo e do Pacto Anticomintern.
Com as acções de Mussolini, o espectro da guerra
perturbava os cérebros. A SDN impressionou-se e agiu energicamente por meio de
palavras, condenando apenas moralmente.
De facto, a quando da sua criação, o Pacto da SDN
estipulava as nobres funções da Organização, que para salvaguardar a paz, todos
os Estados membros deveriam garantir reciprocamente a independência e a
integridade territorial dos diferentes membros. E que a violação do pacto por
meio de agressão armada implicava sanções económicas e financeiras contra o
Estado agressor.
No entanto, o descredito a esta Organização começou
quando as conferências preparatórias sobre o desarmamento (1926-1931) não
conseguiram chegar a resultados positivos. Mas,
foi na década de 1930 que a SDN se revelou incapaz de fazer cumprir os
objectivos para que fora criada ao permitir, com indiferença, que a integridade
territorial de algumas nações, como a China, fossem violadas por outras.
Dessa maneira, ao invadirem a região de África, a Albânia
e ao intervirem-se na guerra civil espanhola, o governo de Benito Mussolini deu
início às tensões diplomáticas que conduziriam a Europa ao início da
Segunda Guerra Mundial.
REFERENCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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A Political History, Ann Arbor, The University of Michigan Press, 1997.
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Daniel Aarão Reis: Século XX. O tempo das
crises. Revolução, fascismos e guerras. Volume II. Civilização Brasileira,
Rio de Janeiro, 2005.
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Universal, vol. XIX, Publicações Europa América, 1940.
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Universal, vol. XX, Publicações Europa América, 1940.
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mundial, Publicações Europa América, Fevereiro de 2001.
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2011.
MILZA, Pierre: As
relações internacionais de 1918 a 1939, 2ª edição, Edições 70, São Paulo,
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P. A. DE: Armindo Monteiro — Uma Biografia Política (1896-1955), Bertrand Editora, Lisboa, 2000.
PRESTON, Paul: A
Guerra Civil de Espanha, Edições 70, (s/l), 2005.
RÉMOND, René: Introdução
à História do nosso tempo – do Antigo Regime aos nossos dias,
Gradiva-Publicações, Lisboa, 1994.
[1] O Tratado de Londres, também conhecido como
"Pacto de Londres" foi assinado em Londres em 26
de Abril de 1915, através da qual a Itália entrou na Primeira Guerra Mundial ao lado da Tríplice Entente. O tratado foi secreto e os países signatários foram: Itália, Grã-Bretanha, França e Império
Russo.
Sob o acordo, a Itália receberia a áreas habitadas por italianos na Áustria-Hungria, grande parte da costa da Dalmácia e o resto do território dos Balcãs do Império Austro-Húngaro seria dividido entre os três estados
independentes: Sérvia, Montenegro e Croácia.
Em particular, a Itália receberia:
1. O Tirol até a separação das bacias, localizado nos Alpes, e incluindo as províncias de Trentino-Alto Adige.
[2] Benito Mussolini (1883-1945) – começou por militar na
ala esquerda do Partido Socialista, sendo director do diário do partido, Avanti. Por altura da 1ª Guerra Mundial
abandonou o socialismo e fundou o jornal Popolo
d’Italia, que reclamava a intervenção na guerra ao lado dos Aliados. Ele
próprio veio a participar na guerra, onde foi gravemente ferido. No regresso,
retomou a direcção do jornal, em que defendia, cada vez mais, posições
nacionalistas e exigia um governo forte. Em 1919, fundou, com antigos combatentes,
os Fasci Italiani di Combattimento,
grupos armados fardados com camisas negras (símbolo do luto pela situação da
Itália) que se tornariam conhecidos pela violência das suas «acções punitivas».
Os Fasci deram origem, em 1921, ao Partido Nacional Fascista.
[3] Neste documento o papa Pio XI reconhece a Itália como
país e Mussolini concede ao Vaticano a soberania como Estado Independente.
[4] MILZA, Pierre: As relações internacionais de 1918 a 1939, 2ª edição, Edições 70,
São Paulo, 2007, p. 85.
[6] Idem.
[7] LOWE, Norman: História
do Mundo Contemporâneo, Editora Penso, S/l, 2011, p. 89.
[9] MILZA, Pierre: Op. Cit., 2007, p. 87.
[10] MILZA, Pierre: Op. Cit., 2007, pp. 87-88.
[12] D. M. SMITH, Modern Italy. A Political
History, Ann
Arbor, The University of Michigan Press, 1997, p. 385.
[13] RÉMOND,
René: Introdução à História do nosso
tempo – do Antigo Regime aos nossos dias, Gradiva-Publicações, Lisboa, 1994,
p. 361.
[14] Pierre Laval
(1883-1945), político francês. Homem de confiança do marechal Henri-Philippe
Pétain, que assinou o armistício com os alemães, adoptou uma política de
colaboracionismo absoluto com as potências do Eixo no governo de Vichy durante
a França ocupada. Foi ministro de Obras Públicas do gabinete presidido por Paul
Prudent Painlevé e, posteriormente, ocupou diversos cargos no governo. Após a
liberação da França, foi julgado e declarado culpado por conspirar contra o
Estado e colaborar com o inimigo. Morreu executado na prisão de Fresnes
(Paris).
[16] Frente de Stresa ou Conferência de Stresa foi um
encontro celebrado em 1935 entre Grã-Bretanha, França e Itália, junto ao lago
Maggiore, como reacção ao desafio de Hitler aos acordos de paz alcançados no
Tratado de Versalhes. Foi a última demostração de unidade entre os aliados da I
Guerra Mundial contra a Alemanha.
[17] [17]
LOWE, Norman, Op. Cit., 2011, p. 91.
[18] OLIVEIRA, P. A. DE, Armindo Monteiro — Uma Biografia
Política (1896-1955), Bertrand Editora, Lisboa, 2000, pp. 131-147.
[19] Anschluss, termo alemão cujo significado é ‘união’. Designa
o objectivo proposto pela Alemanha e Áustria de unificar ambos os países
durante o período de entre guerras, em que pese a proibição estabelecida pelo
Tratado de Versalhes. Efectivou-se em 13 de Março de 1938, quando as tropas
deslocadas por Adolf Hitler na fronteira com a Áustria introduziram-se neste
país para reprimir ‘desordens’.
[24] O Eixo surgiu no Pacto Anticomintern, um tratado anti-comunista assinado pela Alemanha e Japão em 1936. A Itália aderiu ao pacto em 1937. O "Eixo Roma–Berlim"
tornou-se uma aliança militar em 1939 com o Pacto de Aço e integrou seus objectivos militares em 1940, com o Pacto Tripartite.
[26] Munique, Pacto de, acordo proposto e firmado pela
Alemanha, Itália, França e Grã-Bretanha em Munique (Alemanha) em 29 de Setembro
de 1938, para pôr fim ao conflito tcheco-germânico. Implicava a aceitação, por
parte do Reino Unido e França, das exigências territoriais de Adolf Hitler
sobre a cessão dos Sudetos. Hitler se comprometia a não exigir a soberania
sobre mais territórios europeus. O pacto foi firmado por Arthur Neville Chamberlain, Édouard Daladier, Adolf Hitler e Benito
Mussolini. Não obstante, Hitler lançou um ataque sobre a Polónia, em 1939.
A Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha, o que caracterizou o
abandono da política de apaziguamento e o começo da II Guerra Mundial.
[27]
LOWE, Norman, Op. Cit., 2011, p. 91.